Ela levanta bem cedo, se arruma e sai para pegar o primeiro dos três ônibus que vai levá-la à universidade. Durante o trajeto, que demora aproximadamente 1h20, a rotina é sempre a mesma: ônibus lotados e pessoas sem paciência, que tentam se espremer nos mínimos espaços vagos do veículo. Ela se equilibra nas freadas e aceleradas dadas pelo motorista, tentando encontrar um lugar onde possa firmar as mãos para que, pelo menos, possa se segurar. Isso porque sentar é artigo de luxo. Depois de muitos apertos, esbarrões e empurrões, ela finalmente chega ao destino. Mas não fica muito aliviada, pois sabe que na hora de voltar para casa vai passar por tudo isso de novo.
Essa é a rotina enfrentada pela estudante Karin Fernanda de Arruda e também por milhares de pessoas que utilizam diariamente o transporte coletivo de Curitiba, principalmente nos horários de grande movimento.
Mas não é só quem anda de ônibus que tem dificuldades para chegar ao seu destino. Os motoristas curitibanos também enfrentam uma “maratona” para se deslocar num trânsito que parece ficar, a cada dia, mais lento. “Está no limite do caos”, afirma o taxista Eduardo Azevedo, que tem 34 anos de profissão. Segundo o o colega de profissão Duílio Antonio de Pol, lugares e horários que antes não tinham congestionamentos agora já apresentam lentidão no trânsito. “Por exemplo, a Rua Emiliano Perneta, que antes não congestionava, agora congestiona em momentos que você menos espera”, exemplifica.
Os problemas
Na questão do transporte coletivo, o principal problema apontado pelos passageiros é a superlotação dos veículos. “Os ônibus são muito lotados. Na linha que eu pego vem um ônibus atrás do outro, mas a gente não consegue nem entrar porque sempre estão lotados”, afirma a operadora de telemarketing Nira Magalhães, que utiliza duas linhas de ônibus por dia. Para Karin, a quantidade de coletivos não é suficiente para atender a todos os usuários de modo que a viagem seja confortável e eficiente.
Outro problema mencionado pelos usuários do transporte coletivo se refere aos horários das linhas. “Tem linhas em que o intervalo entre um ônibus e outro é bem pequeno; têm outras que demoram bastante”, diz a funcionária pública Magali Schroeder.
Em relação ao preço da passagem as opiniões são divergentes. Nira diz que o valor cobrado condiz com a realidade. “Está tudo subindo, o preço do salário, do combustível. E eles (as empresas) ainda têm as despesas com o conserto e a manutenção dos ônibus. Se para manter um carro a gente gasta bastante, imagine para manter um ônibus”, argumenta. A administradora Kátia de Souza não concorda. “Eu acho que para as linhas que oferecem conforto o preço é bom, agora para aquelas que estão sempre lotadas é caro. É uma questão de custo benefício. Quando você paga e é bem atendido não se importa, agora quando não é complica”, comenta.
Já na questão do trânsito, segundo o engenheiro de trânsito e professor de urbanismo Pedro Akishino, o problema deve-se ao fato de a cidade ser mal planejada. “Curitiba sempre divulgou a propaganda de ser uma cidade planejada. O erro de Curitiba foi não realizar o planejamento urbano em conjunto com o de transporte”, explica.
Um segundo motivo que pode ser apontado como causador do problema, na opinião do professor, é o aumento na quantidade de veículos circulando – Curitiba possui uma frota de aproximadamente 1,5 milhão de veículos, segundo o Departamento de Trânsito do Paraná (Detran). Esse aumento também foi percebido pelos motoristas. “A quantidade de carros cresceu, mas o espaço físico continua o mesmo”, diz o taxista Carlos Alberto Dutra.
O motorista Dalton Luiz Salles lembra que o trânsito de Curitiba nem sempre foi assim e, para exemplificar as mudanças, traça um paralelo de como era a situação antes e de como está agora. “Antes, demorava, em média, uns 30 minutos para cruzar a cidade. Hoje, a gente gasta quase uma hora, e se estiver chovendo então nem se fala”, comenta.
As possíveis soluções
A solução encontrada pelos motoristas para evitar os congestionamentos é procurar caminhos alternativos. “Eu evito passar pelos caminhos mais movimentados”, diz Salles. Mas, para os taxistas, essa saída, na maioria das vezes, não é possível. “Não tem como a gente evitar, porque quem define o trajeto é o passageiro. Quem dera se os meus passageiros só me levassem para onde não tem congestionamento”, brinca De Pol.
Segundo Akishino, a solução para o problema do trânsito seria o aumento de capacidade das vias e a retirada de parte dos veículos de algumas ruas. “As soluções de aumento de capacidade são de engenharia; as de retirada de veículos seriam, por exemplo, a transformação das vias em vias arteriais e expressas”, explica.
O professor lembra ainda que medidas paliativas, como o rodízio de automóveis, não resolveriam o problema. “De acordo com a experiência dos paulistanos, que foi explicitada numa Audiência Pública na Câmara dos Vereadores de Curitiba, o rodízio foi uma experiência errada, e eles (os paulistanos) recomendaram não cometer o mesmo erro em Curitiba”, diz.
Na opinião de Salles, as medidas tomadas atualmente pela prefeitura irão somente adiar o problema. “Por exemplo, a Linha Verde. Eu acho que vai “desafogar” o trânsito por um tempo, mas a longo prazo, com a quantidade de carros sempre aumentando, não vai adiantar nada. Não tem mais jeito, a tendência é ficar cada vez pior”, opina.
Akishino alerta que a condição do trânsito em Curitiba tende a se equiparar à de outras grandes capitais. “Se não forem tomadas medidas sérias, Curitiba vai se tornar uma São Paulo em miniatura, e isso ocorrerá em, aproximadamente, oito anos, afirma.
Para o problema da superlotação no transporte público, a solução apontada pelos usuários seria o aumento da quantidade de ônibus circulando, principalmente nos horários de pico. “Eles têm que colocar mais ônibus nas linhas. Se diminuísse o tempo de espera, a lotação seria menor”, diz Magali.
Outra solução, na opinião da operadora de telemarketing, seria a implantação de metrô em Curitiba. “A prefeitura deveria mudar o esquema de transporte para um modelo que pudesse transportar uma quantidade maior de pessoas”, argumenta.
Direito ao transporte
Uma opção pela diminuição de carros nas ruas seria a instituição do passe livre de ônibus a estudantes. O Movimento do Passe Livre de Curitiba (MPL), formado por estudantes de todos os níveis de ensino, foi criado em 2005 com a intenção de conseguir a concessão de passe livre irrestrito para todos os estudantes, diferente do que acontece hoje. “Nós divergimos dos critérios utilizados para a concessão de passes porque eles exigem um verdadeiro atestado de pobreza, além de atingir uma pequena parcela dos estudantes, que é cerca de 4% do total, e da limitação da quantidade de passagens”, diz o integrante do MPL Hernandez Vivan Eichenberger, estudante de graduação.
A estudante Karin, que gasta em média R$110 por mês com passagens para estudar, diz que, se fosse aprovado, o passe livre traria benefícios para os estudantes. Segundo Eichenberger, 105 cidades do país oferecem o passe livre aos estudantes. Mas, em Curitiba, apesar de todas as atividades desenvolvidas pelo MPL para chamar atenção à causa, até o momento não foram alcançados avanços. “Recebemos argumentos que sempre negam o passe livre, dizendo que existem impedimentos orçamentários ou técnicos para a efetivação do passe. Isso quando não recebemos somente a polícia”, esclarece.
fonte: http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/4841
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