terça-feira, junho 23, 2009

No ritmo atual, frota de veículos de Curitiba dobrará em 10 anos

Rodolfo Búhrer/Gazeta do Povo

Rodolfo Búhrer/Gazeta do Povo / Curitiba no fim da tarde: congestionamentos constantes Curitiba no fim da tarde: congestionamentos constantes
Trânsito

No ritmo atual, frota de veículos de Curitiba dobrará em 10 anos

Número de veículos em outros municípios da região metropolitana cresce a taxas ainda maiores, contribuindo para os congestionamentos na capital

Publicado em 22/06/2009 | João Natal Bertotti

A frota de veículos dobrará em Curitiba nos próximos 10 anos, atingindo 2,1 milhões de veículos, se for mantido o ritmo de crescimento de 38,63% dos últimos cinco anos (2003-2008). Hoje a cidade já é a capital mais motorizada do país – tem 1 veículo automotor para 1,63 habitante –, com uma frota de 1.097.030 unidades para uma população de 1.828.092 – dados de 2008.

As ruas da capital estão congestionadas porque a frota da cidade e do entorno não para de crescer. Curitiba pulou de 791.286 veículos em 2003 para 1.097.030 em 2008. E a frota continua esticando. Eram 1.111.013 veículos em abril deste ano, serão mais de 1,5 milhão em 2013, passando dos 2,1 milhões em 2018, caso o ritmo se mantenha.

O entorno da capital também tem números significativos para o trânsito da região metropolitana. A frota dobrou no período em Almirante Tamandaré e quase dobrou em Colombo, Fazenda Rio Grande e São José dos Pinhais. Essas e outras cinco cidades vizinhas podem jogar juntas mais 366.884 veículos no trânsito da capital (veja mais no quadro ao lado).

De acordo com Fábio Duarte, diretor do mestrado de Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o movimento pendular feito pelos moradores da cidades vizinhas que vêm todo dia para Curitiba é um fatores dos congestionamentos encontrados na capital. “Dizem que a frota de Curitiba é menor do que apontam os números, porque há empresas que licenciam seus veículos aqui e eles circulam em outras cidades, mas, da mesma maneira, há muito carro vindo de outros municípios da região metropolitana para Curitiba”, lembrou.

Com tantos veículos na rua, o dentista Nelson Zillasanti, de 46 anos, precisa de 30 minutos cravados no relógio para voltar para casa, percorrendo um trecho com cerca de 3 km. Ele tem consultório no centro (deixa o carro num estacionamento durante o expediente) e mora no Alto da XV. Já o empresário Ramir Generoso Arantes, de 27 anos, que mora no bairro do Pilarzinho, diz que é muito difícil o trânsito do centro para as Mercês depois das 18 horas.

Segundo especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, para virar o jogo e tirar parte dos carros das ruas, reduzindo o tráfego de veículos, Curitiba precisa olhar o modelo adotado por cidades francesas como Paris e Lyon, que priorizaram a bicicleta; melhorar o seu transporte coletivo, ou, simplesmente, investir pesado no metrô.

Para Carlos Hardt, coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUCPR e especialista em circulação e planejamento urbano, o transporte coletivo da cidade não é tão bom a ponto de ele decidir deixar o seu carro em casa. “O transporte precisa aliar tempo, conforto e preço”, explica. “Para você deixar o seu carro em casa é preciso ter uma vantagem. Isso porque o carro tem o seu grau de conforto, a pessoa faz o seu itinerário, horário, pode escolher o que vai ouvir no trajeto.” Hardt lembra ainda que a própria discussão do metrô passa por aí. “Quem tem condições de pegar o metrô certamente vai deixar o carro em casa”, prevê. “Isso vai fazer aumentar o número de passageiros do transporte coletivo.”

Mas há solução mais simples. Paris e Lyon apostaram no uso de bicicletas públicas, diz Renato Balbim, doutor em trânsito pela USP. “Quanto mais facilidade tiver para automóvel, mais ele estará nas ruas”, avalia, recomendando o incentivo aos meios não-motorizados, como a bicicleta. “Além disso, o uso do solo é importante: criar áreas de usos mistos, com moradia, serviços e comércios juntos para facilitar o deslocamento sem o uso do automóvel.”

Segundo o especialista, além de ter ciclovias, as cidades precisam dispor de semáforos inteligentes e ações para melhorar o transporte coletivo e incentivar o transporte cicloviário. “No Brasil, as cidades nordestinas estão implantando o metrô, Santos já reativou o bonde e Porto Alegre segue o mesmo caminho”, diz. “Já Sorocaba está investindo nas ciclovias.”

Por enquanto, em Curitiba, ainda é mais barato andar de carro do que de ônibus em pequenos percursos (inferiores a 7 km). A prova é que o transporte coletivo da capital perdeu 600 mil passageiros por mês de janeiro a abril deste ano. Já sobre o uso de bicicletas, a prefeitura ainda não encontrou uma solução para explorar seis bicicletários existentes na cidade.
Cidade tem vias mais lentas que a média de São Paulo

Aline Peres

São 18 horas. A Curitiba congestionada anda a 6,1 km/h na Rua Martim Afonso (Bigorrilho-Centro), a 11 km/h na Avenida Victor Ferreira do Amaral (Alto da XV-Tarumã), 15 km/h na Rua General Mário Tourinho (Seminário-Mossunguê) e a 23 km/h na rápida do Portão, sentido bairro. Essas vias, em comparação com os índices apontados por pesquisa feita pelo Citigroup no ano passado, estão bem abaixo da média de São Paulo (24 km/h), cidade considerada a segunda mais lenta da América Latina, perdendo somente para a cidade do México.

Sair do Centro pode ser complicado, mas para quem precisa atravessar de um bairro a outro pode ser ainda muito pior. Mesmo assim, o motorista prefere andar sozinho no seu carro por questão de comodidade. As consequências, porém, nem sempre são favoráveis. A reportagem da Gazeta do Povo percorreu, na semana passada, alguns dos trechos que se transformam em vilões no fim da tarde.

A campeã da lentidão tem sido a Rua Martim Afonso, no Bigorrilho. Quem sai da Avenida General Mário Tourinho pela Martim Afonso leva 49 minutos para percorrer os cinco quilômetros que levam até a Rua Ubaldino do Amaral, no Alto da Glória. Entre paradas, freadas e um tráfego para lá de lento, quem precisa cruzá-la para chegar ao Centro tem de ter muita paciência. Pelo levantamento da Urbs, diariamente cruzam a Mário Tourinho em direção à Martim Afonso 4,9 mil veículos.

É o caso do advogado Jorge Nasser Macedo, de 43 anos. Morador da Rua da Paz, no Centro, ele só usa o carro quando precisa ir ao Fórum Civil de São José dos Pinhais ou de Quatro Barras. Ou ainda, quando busca o filho na Escola Bom Jesus da Aldeia, em Campo Largo. São 1h30 de paciência quando usa a Martim Afonso para vir para casa, ali pelas 18 horas. “Não adianta ficar nervoso, tem de se acostumar”, conforma-se. Amante das caminhadas, Macedo tem o carro como artigo de luxo. Quando vai para São José dos Pinhais, por exemplo, a volta é o tormento. Os 20 quilômetros que o separam de casa se arrastam por quase uma hora, no fim da tarde. Em compensação, em outros horários o mesmo percurso leva 25 minutos. “É preciso criar faixas exclusivas para ônibus e conscientizar a população da carona solidária”, defende.

Outra que sofre no horário da escola é Martha Guebur, de 34 anos. Dona de uma loja na Avenida Mário Tourinho, onde mora, ela sai todos os dias por volta das 17h50. Se fosse antes dessa hora, levaria cinco minutos, porém o retorno para casa se faz somente 20 minutos depois. “As filas são uma constante, acontecem o dia inteiro. Os clientes reclamam e os motoristas também com buzinaços e xingamentos.”

O autônomo Denilson Soares, de 50 anos, constuma percorrer o mesmo trecho. Apesar do tormento pelas mudanças de marcha a cada segundo, ele não abre mão do veículo. “É meu ganha-pão”, conta. Quanto a levar um caroneiro, é taxativo: “Nem pensar ficar grudado em alguém que tem outra rotina”.

Do outro lado da cidade, quem precisa percorrer a Avenida Victor Ferreira do Amaral também padece. Até o viaduto do Atuba são cinco quilômetros percorridos em 21 minutos.

Saindo do Centro pela via rápida do Portão, os 9,6 km até a BR-476, são cumpridos a uma velocidade média de 23 km/h, com tráfego mais lento próximo à Rua Guararapes, no Portão. Para a empresária Dirlete Faccio, 55 anos, que mora no bairro da Água Verde, o excesso de sinaleiros atrapalha. Segundo ela, teria de haver mais análise dos semáforos necessários. “O curitibano é muito egoísta”, reclama. “Não te dá espaço, além do péssimo hábito de buzinar.”

Fonte: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=898362

Um comentário:

Francis Beheregaray disse...

Eu conheço Paris e Lyon, são belas e funcionais cidades; mas não podemos tentar usar do "achismo" para implantar um sistema semelhante ao Europeu no Brasil. Nem tudo que é bom lá fora funciona aqui.