terça-feira, março 15, 2011

Solução para desafogar o trânsito

por Lafaiete Neves, do site de Gazeta em 15/03/2011

A construção do metrô é exatamente uma solução para desafogar o trânsito nas pistas de tráfego, conforto e rapidez para os usuários, na sua maioria, trabalhadores, que movimentam economicamente a cidade

Aparentemente, todos os que se manifestam sobre o metrô de Curitiba, sejam integrantes do poder público ou especialistas sobre transportes coletivos, estão de acordo com a importância da implantação do metrô. Essa constatação dá a impressão de que não há divergências, o que não é verdade.

O volume de investimentos exigidos para tal obra atinge R$ 2,2 bilhões para a construção do trecho sul, com 14,2 quilômetros entre a estação CIC-Sul e a Rua das Flores, no centro da cidade. Curitiba já entra na disputa desses recursos do PAC da Mobilidade, de forma fragilizada, por não haver uma decisão do Executivo municipal quanto aos recursos municipais para tal obra. A prefeitura afirma “que não tem uma estimativa de quanto vai aplicar na obra, nem de onde virão os recursos. Ainda estamos estudando, mas será algo em torno de 20%. Também não sabemos se usaremos recursos próprios ou se faremos empréstimos” (Gazeta, 24/2).

Com tal indefinição, Curitiba já entra derrotada, principalmente para Porto Alegre, que está bem mais adiantada nessa disputa. Se a prefeitura daqui não consegue bancar 20% do valor da obra, já está dizendo que não quer o metrô. É muito frágil o argumento de que não vai tirar recursos da educação e da saúde, que são prioridades, para a construção do metrô. No passado recente, a prefeitura de Curitiba investiu pesadamente para destruir o asfalto que ainda teria uma vida longa na Avenida Marechal Floriano Peixoto para colocar um outro pavimento caríssimo, desnecessário, para proteger principalmente os interesses das empresas de transporte coletivo e das construtoras.

Temos ainda a Linha Verde, que exigiu investimentos em torno de R$ 400 milhões, próximo dos 20% que se exige de contrapartida da prefeitura de Curitiba para a construção do metrô. E todo esse investimento foi feito para beneficiar principalmente quem? Novamente as empresas de ônibus, as empreiteiras e os especuladores imobiliários. E ainda com uma obra que desperdiçou recursos pelo péssimo planejamento, para a qual não se previu para o primeiro trecho viadutos ou trincheiras. Como resultado, essa via tem o trânsito emperrado pelo excesso de semáforos e radares. No segundo trecho, estão consertando os erros, construindo trincheiras e há a proposta de proibir o tráfego de caminhões na via verde para resolver o problema da lentidão do trânsito. Mais uma vez, a prioridade é o transporte individual, prejudicando assim os empresários e milhares de trabalhadores do transporte de cargas, que abastecem a cidade de Curitiba.

A construção do metrô é exatamente uma solução para desafogar o trânsito nas pistas de tráfego, conforto e rapidez para os usuários, na sua maioria, trabalhadores, que movimentam economicamente a cidade. Vai também liberar as atuais pistas exclusivas dos ônibus expressos para outras opções, que beneficiará a população, com as ciclovias, áreas de lazer, calçadão para pedestres e arborização, como reconhece o próprio Ippuc. E o mais importante: vamos tirar de circulação centenas de ônibus, que emperram o trânsito em Curitiba, que estão causando acidentes periódicos com mortos e contribuir para a preservação do meio ambiente. O poder público não pode governar amarrado aos interesses dos grupos econômicos, que muitas vezes inviabilizam a modernização da cidade, com consequências graves para o futuro e sim governar para a maioria, que o colocou no poder.

Lafaiete Neves, doutor em Desenvolvimento Econômico, é professor do Mestrado em Organizações e Desenvolvimento da FAE – Centro Universitário e pesquisador do IPEA/CAPES.

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