sexta-feira, junho 24, 2011

Curitiba perde mais passageiros por quilômetro


por Gabriel Azevedo

O Índice de Passageiros por Quilômetro (IPK) da
região metropolitana de Cu­ri­tiba (RMC) caiu 21%
na última década, a maior queda entre as dez
capitais brasileiras monitoradas, de acordo com
dados da Fundação de Instituto de Pesquisas Econô­micas
(Fipe) e da Confederação Nacional do Trans­porte (CNT).
O IPK é o resultado da divisão do número mensal de passageiros
equivalentes (total de usuários, descontadas as gratuidades)
do transporte coletivo pela quilometragem mensal. No ano 2000, o índice da
RMC era de 2,07. No ano passado, foi de apenas 1,63.

O IPK é importante porque influi diretamente no preço da passagem. Quanto
menor o índice, mais cara é a tarifa. Autor de um trabalho sobre o tema, o
economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Sócio-Econômicos (Dieese) Sandro Silva lembra que em Curitiba a queda no
IPK é registrada há quase duas décadas. “Entre 1994 e 2001, a
quilometragem aumentou 58%. No mesmo período, houve um crescimento de
apenas 2% no números de usuários. O IPK caiu e a passagem aumentou”, diz.

O economista do Dieese avalia que uma tarifa cara afasta os usuários do
sistema, criando um ciclo vicioso. “Falta de passageiros diminui o IPK e
aumenta o preço da passagem, que afasta mais passageiros. É um ciclo
vicioso”, afirma. “Em Curitiba, a crise dos anos 80 afastou os
passageiros. A passagem aumentou. Com a retomada do crescimento, a oferta
de crédito aumentou e a procura pelo automóvel também. O transporte
coletivo perdeu passageiros.”

Precariedade e superlotação

Vários fatores podem ter interferido na queda do IPK de Curitiba, cidade
considerada modelo quando o assunto é transporte coletivo. Para João
Carlos Cascaes, ex-diretor de Planejamento da Urbani­zação de Curitiba S/A
(Urbs), o sistema piorou e as pessoas deixaram de usá-lo. “Canaletas em
condições precárias, poucos veículos, ausência de informações ao usuário,
superlotação”, ressalta.

Para o economista Lafaiete Neves, autor do livro Movimento Popular e
Transporte Coletivo em Curitiba, é o preço da tarifa que afasta os
passageiros e diminui o IPK . “O que temos aqui são oligopólios: poucas
empresas ofertando o serviço. Como agem em forma de cartel, empresários
preferem elevar as tarifas à medida que perdem passageiros, mantendo os
lucros altos”, afirma. “O poder público até regula, mas não controla os
custos do sistema. Com isso, milhares de usuários são penalizados com uma
elevada tarifa e um serviço sem qualidade.”

Para outros, a queda do IPK não está atrelada à qualidade do sistema. O
arquiteto Antônio Miranda, ex-funcionário da Empresa Bra­sileira dos
Transportes Urba­nos, acredita que o índice na RMC é resultado da
distribuição da rede. “Em Curitiba há muito carregamento nas extremidades,
nos gran­des terminais periféricos, e muita descida de passageiros na área
central. Parece claro que as atividades comerciais, serviços e empregos
estão melhor distribuídas em Porto Alegre do que em Curitiba”, avalia.

O ex-presidente da Urbs Gar­rone Reck tem uma opinião semelhante. “O baixo
IPK é resultado de ineficiência. Seja por oferta improdutiva,
quilometragem ociosa, ou por uma rede de linhas inadequadas, situação que
pode ocorrer quando, com o passar do tempo, a demanda muda seus interesses
de viagem e as linhas continuam as mesmas”, diz.

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Usuários reclamam de lotação e tarifa alta

Para os usuários, o sistema de transporte de Curitiba é caro e não oferece
qualidade, principalmente quando a tarifa é levada em consideração. De
acordo com um levantamento da Paraná Pesquisas, feito com exclusividade
para a Gazeta do Povo, em janeiro deste ano, 77% das 510 pessoas ouvidas
disseram considerar R$ 2,50 uma tarifa muito alta diante da qualidade
oferecida pelo sistema.

Apesar de ser o transporte mais utilizado pelos entrevistados (58,2% usam
o ônibus) e ser considerado ótimo e bom por 53% deles, metade das pessoas
ouvidas apontaram a lotação como o maior problema do transporte coletivo
da capital. O preço da passagem apareceu em terceiro lugar, com 18%. Em
segundo, com 38%, ficou a de­­mora entre os ônibus. Ques­tionados sobre o
que os levaria a utilizar o transporte público, 14,3% responderam que os
ônibus menos lotados e 10,4% uma tarifa mais barata.

Para André Caon, coordenador do Fórum de Mobilidade Urbana de Curitiba, o
resultado do levantamento mostra os motivos que levam Curitiba a perder
passageiros. “Está implícito, as demandas dos usuários não estão sendo
atendidas. Hoje é muito mais caro andar de ônibus do que de automóvel. É
preciso alterar o foco das políticas públicas de transporte, que priorizam
o transporte individual em detrimento do transporte coletivo”, afirma.

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