Olá, respondendo a Herbert e continuando a análise...

Vamos ao debate:

A BILHETAGEM:

1- A estratégia de bilhetagem eletrônica está inserida num conjunto estratégico de mercantilização por parte proprietários e administradores do sistema de transporte privado. A implementação da bilhetagem em salvador segue o esquema de outras cidades, e está divida em 4 etapas. Estamos na 3ª etapa.

Consulte www.ntu.org.br (associação nacional dos transportes urbanos).

Breve sintese só pra ter uma idéia de como o processo já está avançado e visa reduzir o número de meias passagens. A 1ª etapa começou em 98. Quando o número de meias passagens estava aumentando, inseriram o smartcard (pra prejudicar o estudante), o que fez regredir o número de meias passagens para níveis de 6 anos antes.

Consulte o anuário estatístico do sistema de transporte público de salvador, não tem em meio digital, mas tem uma cópia com o pessoal do MPL e uma no DAADM. Lá estão todos os dados.

Lentamente o número de meias-passagens retomou o crescimento, quando de 2003 para 2004 houve um aumento de quase 40% das meias-passagens, eles inserem o salvadorcard.

A proposta da bilhetagem defendida e implementada pelo patronato, tem três objetivos muito definidos:

1- reduzir o número de meias-passagens
2- aumentar a receita
3- demitir cobradores
4- reduzir custos

Os dois primeiros objetivos, segundo experiências em outras cidades, foram atingidos com razoável nível de sucesso. A demissão dos cobradores só em aproximadamente 16% das cidades. A tecnologia em sua 4ª etapa permite a demissão dos cobradores, e o próprio patronato admitiu onde a bilhetagem estava em sua fase, que só não conseguiu demitir onde os trabalhadores se organizaram e se mobilizaram. Mas que este ainda é um objetivo.

2- A integração com os sistemas informatizados de controle de frequência escolar para reduzir as meias-passagens, também é um dos objetivos do sistema. Novamente, isto está bem claro para o patronato e entra em operação na quarta-fase. Leia seus documentos, veja a súmula dos seus fóruns. Vc acha que é coincidência que o sistema eletrônico seja todo integrado, e como a SETPS mesmo diz, a cada recarga será possível fazer uma atualização dos dados para "evitar fraudes". Mais uma vez, consulte arquivos do www.ntu.org.br.

Num dos trabalhos de organização comunitária que estou envolvido, tive um certo contato com estudantes, professores e diretores de colégios públicos estaduais do "Beco da Cultura" no Nordeste de Amaralina. Estes diretores e estudantes estavam preocupados com o sistema eletrônico de presença, pois enquanto estavam instalando perguntaram aos técnicos se os dados iriam para as empresas de transporte poder cancelar os cartões, estes técnicos disseram que sim. Inclusive já houveram reuniões entre a comunidade escolar da região pra debater o assunto.

Portanto, cuidado na hora de ridicularizar uma argumentação, pois o "feitiço pode virar contra o feitiçeiro".


PASSAGEM PELO TEMPO

Essa proposta realmente existe, considera que a partir do primeiro onibus que vc pegar no dia, durante 2 ou 3 horas poderá pegar quanto onibus for necessários sem pagar passagens. É interessante para quem precisa pegar dois ou três onibus pra ir ou voltar do trabalho/escola.
A bilhetagem eletrônica permite isso, mas em hora nenhuma o patronato defende isso. As cidades onde isso foi implementado, foi a custa de muita luta e batalha dos movimentos sociais.


AS ENTIDADES E O PATRONATO

Que bom que seu agrupamento político deve algum nível de discordância com esta proposta. E segundo seu outro email com Caribé, melhor que ainda que vcs estejam pensando em romper com esta entidade.

A UNE e UBES fizeram tudo na surdina, o SalvadorCard apesar de estar sendo negociado há meses com estas entidades, não chegou a base pra ser discutido. Estudo na UFBA, participo dos fóruns deliberativos, conheço várias pessoas da UNE e UBES que fazem diversas falas nos espaços, mas debateram ou sequer comentaram esta proposta em suas bases, eu soube pela televisão!

Alguns problemas vc mesmo relata: perda de autonomia, não dá opção ao estudante na forma de contribuição com a militância, concentra renda na UNE e UBES, e outros elementos que podemos debater depois.


SAINDO DO TÉCNICO E INDO PARA O TEÓRICO

Não precisa ser um expert, fazer administração ou ler milhões de texto. A teoria marxista descobriu o conflito de classe, esmiuçou sua origem, causas e conseqüências. Tendo a mínima noção disso, sabemos que uma política defendida pelo patronato dos transportes, necessariamente é prejudicial a população, no caso a massa dos estudantes.

Ao perceber que neste espaço e em diversos outros a UNE e UEB se aliam a institucional idade hegemônica, está fazendo uma política de conciliação de classe, desorientando a base do movimento que ainda vê nestas instituições sua referência de luta.

Estou disposto ao debate técnico, ao teórico e a confrontação de práticas. A questão é fundamental, e com certeza vai gerar diversas mobilizações após ser implementada.

Abraços

Fabricio