OBS: Segue a contribuição do MPL de Salvador para a discussão da atual conjultura do sistema de transportes.


Olá,

Após ler alguns textos, começei a me perguntar o real efeito da bilhetagem eletrônica sobre os estudantes, uma vez que toda a argumentação está centrada apenas na segurança. Após pesquisar um pouco, eis as conclusões que cheguei:


PARA OS EMPRESÁRIOS:


Basicamente o aumento da arrecadação, pelo seguinte:

- Uma vez que irá obrigar aos estudantes a pagarem antecipadamente as passagens de ônibus, a receita entra em caixa antes dos estudantes efetivamente utilizarem o sistema de transporte.

- O controle eletrônico irá bater com a frequência escolar, que está sendo digitalizada por um programa do governo federal em todas as escolas públicas. Assim, se o sistema eletrônico de presença em sala de aula, apontar que o estudante não está frequentando, o próprio sistema cancela seu smartcard.


PARA AS ENTIDADES UNE e UEB:

A politica de conciliação de classes mais uma vez se demonstra e muito forte. Estas entidades realizam mobilizações pelo passe-livre, para conseguir filiados, mas na prática continuam com estreita colaboração com os empresariados (os próprios empresários reconhecem isso).

- Condicionou a criação dos novos cartões a contribuição para as entidades, ou seja, elas vão ganhar muito dinheiro com a criação do Salvador-card:

"A revalidação vai custar R$ 5 para os alunos de primeiro e segundo graus, R$ 1,60 dos quais serão destinados às entidades estudantis. Já os estudantes universitários vão ter que desembolsar R$ 6,50 pelo cartão, contribuindo com R$ 3,10 para o financiamento das entidades. A primeira via vai custar R$ 20,40, sendo que R$ 4,60 são destinados aos estudantes."

Ninguém me perguntou se eu queria contribuir com a UNE e UEB, agora multipliquem estes valores pelo total de estudantes de Salvador! Estas entidades vão ganhar muita grana, e nós estudantes, vamos nos prejudicar com a bilhetagem. E ainda tem a cara-de-pau de fazer mobilização pelo passe-livre...

- As entidades tb irão tornar mais eficiente seu controle sobre a receita das carteirinhas estudantis, sob o pretexto de que evitando as falsificações irão baratear os eventos... Ledo engano, é ir pelo mesmo argumento dos empresários de que a falsificação do smart-card que encarece a passagem, tornando "inviável economicamente" um sistema de transporte que hoje lucra aproximadamente R$5000.000,00 por mês em salvador (ver site das entidades de transporte).

- A luta por receita das carterinhas por parte da UNE e UEB é muito clara, basta lembrar que no ano passado aqui na Bahia, os estudantes que organizaram a carterinha unificada foram processados pela UNE por formação de quadrilha!!!


PARA OS ESTUDANTES:

Nós que vamos sofrer mais do que todos. Teremos que recarregar no máximo três vezes por mês o nosso cartão, ou seja, teremos que ter a grana antes de pagar a passagem. Um breve cálculo: considerando que utilizemos em média 4 vezes por dia o smartcard durante todos os dias do mês, o gasto total com transporte é de R$102,00. Então para usar o smartcard durante todo o mês, teriamos que em média fazer 4 recargas de R$34,00. Quem tem R$34,00 inteiro pra recarregar no cartão? A grande maioria dos estudantes, inclusive eu, vai conseguindo dinheiro aos poucos, durante o mês.

Agora vamos imaginar os milhares de secundaristas e universitários, carentes, que fazem trabalhos informais ou vivem da grana irregular dos pais, tendo que fazer pagamento antecipado de passagem! Essa galera não vai ter como recarregar, e vai se lascar, porque apesar de ter dinheiro pra pagar a meia passagem não vai ter como carregar no cartão.

Além disso, sabemos a péssima qualidade dos colégios públicos do ensino fundamental e médio, para manter a meia passagem os estudantes terão que efetivamente ir a escola, camuflando o problema atual que é gritante da evasão escolar.

Por enquanto é só isso, gostaria de puxar um debate sobre este assunto, visando futuras mobilizações.

Abraços

Fabricio