segunda-feira, agosto 04, 2008

O ônibus encolheu!


Albari Rosa/Gazeta do Povo

Uso de microônibus – sem cobrador, só motorista – em horários de pico irrita usuários, que reclamam de superlotação

Publicado em 03/08/2008 | José Marcos Lopes

Na teoria, o objetivo da prefeitura de Curitiba é tornar o transporte coletivo “atraente”, a fim de evitar o aumento do número de veículos nas ruas. Mas, na prática, muitas vezes o que se observa são ações que podem afastar ainda mais os usuários.

Uma dessas medidas, a utilização dos microônibus, tem irritado usuários nos horários de pico. Segundo a Urbs, empresa que gerencia o transporte coletivo na capital, atualmente há 132 microônibus na cidade, em diversas linhas convencionais (amarelas), de acordo com a demanda. Além de ter uma capacidade menor em relação aos veículos convencionais, no microônibus há apenas um funcionário – o motorista também faz o papel de cobrador.

A assessoria da Urbs informou na quinta-feira que os “microespeciais” são utilizados em linhas e horários com baixa procura. Não foi o que a reportagem observou entre as 18 e as 19 horas do mesmo dia na Praça Rui Barbosa e em pontos próximos. Em pelo menos oito linhas havia filas dobradas e reclamações: Cajuru, Vila Izabel, Palotinos, Juvevê-Água Verde, Santa Bárbara, Santa Quitéria, Abranches e Vila Rosinha. Em quatro destas linhas, microônibus partiram lotados e usuários permaneceram no ponto.

“Fiquei porque não tinha lugar”, reclamou a funcionária pública Magali Prestes, 65 anos, que esperava no ponto da linha Vila Izabel. “Nos horários de pico tinham que usar o ônibus grande, como em todos as cidades.” Ao lado dela, a professora Catarina Mussolini, 30 anos, também reclamava. “O ônibus não vai cheio, ele vai entupido. Isso porque as aulas ainda não recomeçaram totalmente”, disse. “Tem mais de um ônibus, mas não adianta. A espera é de meia hora a 45 minutos.”

Taxa

Segundo a Urbs, a substituição segue pesquisas que apontam a redução da demanda em determinados horários. O objetivo seria reduzir os custos do sistema, a fim de evitar reajustes na tarifa. A orientação é para os usuários que sentirem prejudicados entrarem em contato pelo telefone 156.

A substituição levanta um ponto polêmico: como as empresas de transporte coletivo recebem da Urbs por quilômetro rodado, elas embolsariam mais no caso de utilizarem dois veículos pequenos ao invés de um. Segundo a Urbs, a taxa paga pela operação de um microônibus é 30% inferior ao valor repassado por um ônibus convencional. A assessoria não soube informar o valor das taxas, mas, em e-mail enviado na sexta-feira, explicou que, em caso de problemas, “a primeira opção é sempre colocar viagens adicionais, para reduzir o intervalo entre as viagens.”

O diretor-executivo do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Paraná, Ayrton Amaral, nega que as empresas tenham vantagens. “Ao colocar um ônibus menor, a empresa recebe menos pelo seu serviço”, afirmou. A justificativa seria a queda no número de passageiros nas linhas convencionais, que geralmente ligam o Centro a bairros próximos. “Antigamente, 70% da demanda das linhas era o Centro. Hoje, está em torno de 30%. Um ônibus que roda vazio é dinheiro jogado fora.” Segundo Amaral, a taxa média paga por quilômetro rodado (incluindo todos os modelos de ônibus) é de R$ 4. Ele nega que a Urbs costume utilizar dois microônibus no lugar de um. “O cálculo que a Urbs faz é sempre o mais barato para o sistema.”

Outra polêmica é em relação à dupla função de motoristas, que ganham um abono de 10% para darem o troco. “A carga de trabalho é cada vez maior”, criticou o diretor- financeiro do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba, Valdecir Bolete. Segundo Ayrton Amaral, os gastos com cobradores representam entre 12% e 15% dos custos do sistema, mas eles estariam passando por cursos, a fim de serem reaproveitados como motoristas.

De acordo com a Urbs, os microônibus têm capacidade para 70 pessoas, enquanto os ônibus padrão comportam 110. O órgão informou que na próxima semana será feito um estudo para checar a situação das linhas em que foi constatada superlotação. Segundo a Urbs, a linha Juvevê/Água Verde passou a funcionar com um microônibus em julho, em função da tabela de férias. Já as outras sete linhas têm microônibus há cerca de dois anos.

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Fonte: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=793392

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