terça-feira, junho 22, 2010

Relógio é o inimigo dos motoristas de ônibus

Leonardo Coleto


O acidente envolvendo um Ligeirinho da linha Colombo -CIC, que deixou
duas pessoas mortas e 32 feridas, no último dia 10, na Praça
Tiradentes, centro de Curitiba, levantou a situação de estresse
vivenciada diariamente pelos motoristas do transporte coletivo da
capital e região metropolitana.

Para o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e
Região Metropolitana (Sindimoc), sintomas de estresse e problemas
psicológicos são cada vez mais frequentes entre esses profissionais.

A constatação é do Centro Médico Ambulatorial (CMA) do Sindimoc, que
diariamente atende motoristas com problemas de saúde. Atualmente, 800
funcionários, de um universo de 12 mil, estão encostados pelo
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Motoristas entrevistados pela reportagem afirmam que não conseguem
cumprir horários estabelecidos, principalmente nos momentos de maior
movimento. "Tenho 20 minutos para percorrer 20 quilômetros no meio
desse caos que é o trânsito de Curitiba às 18h. Não tem como seguir
essa tabela. Se atrasar um dia tudo bem, mas isso acontece
diariamente. Se reclamamos eles afirmam que os outros motoristas
conseguem. Assim não tem condições", descreveu um motorista que
preferiu não se identificar.

Enquanto o trânsito é o maior problema para boa parte dos motoristas,
aqueles que dirigem e cobram ao mesmo tempo afirmam que o estresse é
ainda maior. Segundo outro motorista, que também preferiu ficar no
anonimato, é impossível ficar calmo nessas condições. "Se eu demoro um
pouco para dar o troco já ouço os passageiros e motoristas de outros
veículos reclamando. É difícil", confessou.

Os motoristas vivenciam diariamente diversos tipos de pressão, "que
vão desde o horário a ser cumprido até risco de assalto. A tabela
utilizada atualmente é a mesma desde 1994, mas muita coisa mudou de lá
para cá, principalmente o movimento no trânsito, implantação de
radares e fluxo de veículos durante todo o dia", declara o diretor do
Sindimoc, Valdeci Bolete.

Além do estresse, Claudemir Jorge da Rosa, um dos diretores do CMA e
membro do Sindimoc, ressalta outro problema enfrentado pelos
motoristas. "Trabalho como motorista e cobrador de micro-ônibus e sei
como a situação é difícil. Os motoristas reclamam muito de insônia.
Aqueles que guiam o primeiro ônibus saem de casa por volta das 3h da
manhã e aqueles que ficam com o último chegam por volta de 1h em casa.
O sistema começa muito cedo e vai até muito tarde", constata.

A Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), afirma que monitora e ajusta
permanentemente a tabela de horários dos ônibus da Rede Integrada de
Transporte (RIT).

Por meio de sua assessoria, a Urbs comparou a diferença na
quilometragem rodada por dia em consequência das alterações. Em 2009,
os ônibus da RIT rodaram uma média de 487 mil quilômetros por dia. A
medição anterior apontava 484 mil quilômetros por dia. Segundo a Urbs,
esse aumento é fruto das adequações feitas na tabela de horários.
Passageiros sofrem com superlotação dos veículos

Enquanto motoristas e cobradores reclamam de um lado, os passageiros
impacientes questionam os atrasos de suas linhas do outro. Segundo
eles, nos horários de maior movimento, é preciso esperar até dois
ônibus passarem lotados para que seja possível embarcar.

"O maior problema na minha opinião está na demora dos ônibus. As vezes
fico esperando muito tempo para conseguir embarcar. Sem contar que
quando consigo preciso ir em pé", afirma a secretária Tânia Gama.

Para Sonia da Veiga, que diariamente pega a linha Vila Guilhermina, na
Praça Rui Barbosa, existem poucos ônibus nos horários de maior
movimento. "Preciso esperar para conseguir entrar em um dos ônibus que
vão para o sentido da minha casa. Já vi também muita falta de educação
por parte dos motoristas e cobradores", conta.

Para Bruna Melo, o melhor é chegar um pouco mais tarde do horário de
maior fluxo. "Prefiro esperar um ônibus lotar para poder pegar o
próximo. Se não fizer isso vou ter que percorrer todo o caminho em pé.
Além disso, vejo problemas no cuidado dos motoristas. Acho que pela
preocupação em seguir os horários eles acabam abusando da velocidade
em alguns pontos", relatou a passageira que diariamente pega a linha
Dom Ático, na Praça Rui Barbosa.

A Urbs afirma que dimensiona a frota de acordo com o movimento de cada
linha. Um itinerário que estiver com um micro-ônibus, por exemplo,
receberá um veículo maior seguindo as orientações dos fiscais da Urbs.
Nas linhas de eixo (Ligeirinhos e biarticulados), de forma diferente,
a empresa disponibiliza carros extras de acordo com a necessidade.

Negociações

O metrô, que poderia ser uma das alternativas para a redução do
movimento no transporte coletivo de Curitiba, ainda está sendo
negociado pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba
(IPPUC).

Por meio de sua assessoria, o órgão informou que está articulando com
o governo federal a inclusão do projeto do metrô da capital no
Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC 2). (LC)
Trabalhadores se queixam de pagar multas

O problema da pressão gerada pelo cumprimento da tabela de horários
enfrentado pelos motoristas da Rede Integrada de Transporte (RIT) não
atinge apenas a saúde desses profissionais.

Na maioria dos casos, quando os fiscais da Urbs registram algum atraso
ou irregularidade, a multa é repassada diretamente ao motorista. De
acordo com o Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região
Metropolitana (Setransp), em 2009, foram recebidas, em média, 400
multas por mês.

Para o Sindimoc, o medo da multa não traz prejuízos apenas para os
motoristas. "Essa pressão vem da própria Urbs, que faz com que o
profissional trabalhe sempre preocupado em chegar no horário durante
seu turno. Temos registros de multas aplicadas por causa de dois
minutos de atraso, o que é descontado do próprio motorista", afirma
Valdeci Bolete, diretor do Sindimoc.

Segundo um motorista que preferiu não se identificar, "essa pressão
faz com que a categoria seja mais agressiva no trânsito, o que abre
margens para acidentes", diz. Segundo o Batalhão de Polícia de
Trânsito (BPTran), entre janeiro e maio desse ano, foram registrados
316 acidentes envolvendo ônibus e micro-ônibus em Curitiba.

Quanto às multas, a Urbs afirma que quando o atraso não é justificado
(acidente ou engarrafamento), a notificação é encaminhada para as
empresas, que, por sua vez, avaliam se o pagamento será feito pelo
funcionário ou por ela própria.

No entanto, segundo Ayrton Amaral Filho, diretor executivo do
Setransp, existe uma negociação antes da destinação da multa.
"Entendemos que a preocupação é que o sistema seja bem operado, mas
infelizmente as multas acontecem. Quando o fiscal vê algo inadequado
multa a empresa. Nesse caso a empresa chama e escuta a versão do
motorista, faz uma defesa que é encaminhada para a Urbs, que aceita ou
nega, definindo assim quem deverá pagar", explica. (LC)

Fonte: http://www.parana-online.com.br/editoria/cidades/news/454874/?noticia=RELOGIO+E+O+INIMIGO+DOS+MOTORISTAS+DE+ONIBUS

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