sexta-feira, setembro 23, 2011

As Entranhas polítiqueiras do transporte coletivo em Curitiba - 3

"A população de Curitiba vive uma profunda expoliação por diversos ângulos do poder político e econômico. Poucas vezes na história desta cidade se organizou popularmente contra as elites políticas e economicas. Nunca antes a política foi tão independente – com base na ações deslavadas das últimas três décadas a cerca do nepotismo e favorecimentos. Na verdade é isso que queremos investigar com esta série de artigos – nunca antes estivemos tão próximos de ameaçá-los!"


"Subsídio e capital"

No auge do discurso neoliberal, há poucos anos, queriam fazer do BNDES um banco igual aos outros. Na lógica do remédio único, os baixos juros do BNDES e correlatos turbinariam a inflação. Grandes bancos, ou melhor, banqueiros, assim perdiam a oportunidade de intermediar empréstimos vultosos; coitadinhos!

Com todos os pesares podemos, contudo, questionar os critérios de acesso a recursos de baixo custo. Pouco antes de morrer, o ex-presidente da Copel, o economista Ronald Ravedutti, entregou-me um papel com detalhes da discriminação contra as estatais, ainda que de capital misto. Ou seja, a Copel, se fosse buscar dinheiro público, estaria sujeita a quase 10% a mais de juros... O fato da empresa ser modelar e não ter bueiros voadores ou gasodutos explodindo é secundário, o importante é que estava carimbada como empresa pública.

No transporte coletivo urbano vemos um cenário mais esdrúxulo. Para sistemas caros existe dinheiro de graça, participação a “fundo perdido” pela União e até pelo Estado. Sistemas livres e de licitação de concessão e caríssimos podem qualquer luxo. Já o tradicional, versátil e sempre melhor ônibus deve ser propriedade de empresas privadas, que ganharem concessões e assim formarem capital próprio, usando recursos federais (dinheiro nosso) para comprar veículos. Das cidades essas empresas têm vias privilegiadas e o direito de usar exaustivamente a linha “garagem” ou “recolhe”. O fundamental é dar lucro e ainda arrecadarem o suficiente que permita outros serviços que deveriam existir sem pesar nas tarifas.

Temos uma “Economia Frankenstein” e serviços precários, até por que sem segurança o usuário do transporte coletivo está sujeito a todos os riscos.

Depois vêm falar em sustentabilidade, quanta hipocrisia!

Entre múltiplos pesos e medidas temos uma coleção de leis feitas pelos poderosos para serem mais fortes e, pagando tudo isso, um povo que se satisfaz com o futebol de fim de semana e a cerveja gelada.

O terceiro milênio, por bem ou mal começou com novos desafios. Temos até meteoro artificial com a queda de satélites artificiais que custaram uma fortuna para existir e que simplesmente são abandonados na hora de voltar. É mais barato indenizar, como acontece com o usuário do transporte coletivo urbano.

Podemos mudar, melhorar e evoluir.

O transporte coletivo, do ônibus ao táxi, sem pensar em sistemas mais caros se evitarmos os engarrafamentos monstruosos quando relaxamos leis de ocupação de solo ou descuidamos de alvarás inacreditáveis, pode ser fator de mobilidade sadia e acessível, com tarifas muito menores.

Como?

Podemos pensar em frota pública, operação real do sistema, isenção de impostos, tecnologia e no caso dos taxis ainda criação de uma central comandada pela PM e/ou PMC, sem custos para os taxistas, por exemplo.

Se entrarmos no mérito de soluções urbanísticas será possível escrever tratados e mais tratados.

Alguém poderá perguntar, como tudo isso aconteceu?

O transporte individual baixou custos e aumentou de qualidade e as cidades se ajustaram a esse luxo, e agora?

Temos, pois, muito a questionar, inclusive nossos famosos conselhos que poderiam ser universais, de livre acesso e participação, graças à internet.

Por quê não evoluímos?

Cascaes


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